Os moluscos e o meio ambiente

Por séculos, os navios carregaram lastro sólido, na forma de pedras, areias ou metais. Atualmente, as embarcações usam a água como lastro, o que facilita bastante a tarefa de carregar e descarregar um navio, além de ser mais econômico e eficiente do que o lastro sólido. Mas o que é lastro?

Quando um navio está descarregado, ou seja, sem carga, fica muito leve. Para que não haja perigo de flutuação, os seus tanques recebem água de lastro para manter a estabilidade, o balanço e a integridade estrutural. Quando o navio é carregado e fica mais pesado, a água deixa de ser necessária e é lançada ao mar. Um sério problema ambiental surge quando a água dos lastros contém vida marinha.

Um navio, por exemplo, enche seus porões com água do mar e um porto brasileiro, no oceano Atlântico, e viaja até Hong Kong, na China. Lá ele recebe carga e despeja o lastro no oceano Pacífico. Ao fazer isso, esse navio provavelmente introduz espécies de um ecossistema em outro diferente; porque, com a água do mar, entram e saem do navio milhares de espécies marinhas, tais como bactérias e outros micróbios, pequenos invertebrados e ovos, cistos e larvas de diversas espécies.

  • Que efeitos isso pode provocar nas cadeias e teias alimentares do local onde essa espécies estão sendo introduzidas?
  • Haverá competição entre espécies que ocupam nichos ecológicos semelhantes?
  • Espécies naturais daquele ambiente desaparecerão?
  • Espécies introduzidas de outros ecossistemas podem se reproduzir de forma intensa se não tiverem predadores que façam o controle?

Essas são apenas algumas das perguntas a serem feitas em relação a essa questão.

Estima-se que o movimento de água de lastro proporcione o transporte diário de pelo menos 7 mil espécies entre diferentes regiões do globo. A grande maioria das espécies levadas na água de lastro não sobrevivem à viagem por conta do ciclo de enchimento e despejo do lastro, bem como das condições internas dos tanques, hostis à sobrevivência dos organismos.

Mesmo para aqueles que continuam vivendo depois da jornada e são jogadas no mar, as chances de sobrevivência em novas condições ambientais, incluindo ações predatórias e/ou competições com as espécies nativas - são bastante reduzidas.

No entanto, quando todos os fatores são favoráveis, uma espécie introduzida, ao sobreviver e estabelecer uma população reprodutora no ambiente hospedeiro, pode tornar-se invasora, competindo com as espécies nativas e se multiplicando em grandes proporções.

Além dos desequilíbrios ambientais, bactérias causadoras de doenças podem ser introduzidas e provocar a contaminação de moluscos filtradores, como a ostra e o mexilhão, utilizados na alimentação humana, causando paralisia e até mesmo a morte.

A lista segue com centenas de exemplos de importantes impactos econômicos e ecológicos, que afetam a saúde do ser humano em todo o mundo. Teme-se, inclusive, que doenças, como o cólera, possam ser transportadas na água de lastro.

Em casos de derramamentos de óleo, há vários procedimentos para buscar a recuperação do meio ambiente, mas, ao contrário desta e de outras formas de poluição marinha, o efeito das espécies marinhas invasoras é irreversível, na maioria dos casos, e representa uma das maiores ameaças aos oceanos do mundo!

Solução à vista!

O governo brasileiro assinou, em 2005, em Londres, a Convenção Internacional sobre Controle e Gestão de Água de Lastro e Sedimentos de Navio. A Convenção, aprovada em fevereiro do ano passado pela Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês), tem por objetivo reduzir a introdução de espécies exóticas por meio da água de lastro dos navios. A adoção de uma nova convenção sobre água de lastro vinha sendo discutida há 10 anos, por causa das grandes implicações econômicas e ambientais. O Brasil foi o segundo país a assinar o acordo que depende da adesão de 30 países, que representem 35% da tonelagem da frota mundial, para entrar em vigor.

Para antecipar a convenção internacional, que pode demorar até 20 anos para entrar em vigor, a Marinha do Brasil está discutindo a publicação de uma Norma de Autoridade Marítima (Normam), determinando que todos os navios que se destinarem aos portos brasileiros troquem a água de lastro, ao menos, a 200 milhas da costa e a 200 metros de profundidade.

Como referenciar: "Os moluscos e o meio ambiente" em Só Biologia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 04/12/2024 às 06:19. Disponível na Internet em https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Reinos2/moluscos3.php