Pesquisa científica
Teoria da abiogênese e teoria da biogênese
Sabemos que desde a Antiguidade as pessoas têm o desejo de conhecer o mundo. Quanto mais sabemos sobre ele, mais podemos atuar para melhorar a nossa vida, entendendo que é necessário ter cuidado de não alterar o equilíbrio do ambiente.
Um dos questionamentos a que os seres humanos, cientistas ou não, de culturas e religiões diferentes procuraram (e procuram) responder é este: Como surgiu a vida? (Problema). Para responder a essa pergunta, várias teorias (hipóteses) diferentes já foram criadas.
A respeito da origem da vida, entre as teorias (hipóteses) mais conhecidas, temos:
- a teoria da abiogênese, aceita até meados do século XIX, afirma que a vida pode ser gerada espontaneamente;
- a teoria da biogênese, segundo a qual a vida somente pode ser produzida por outra vida preexistente;
- o criacionismo, que explica o surgimento da vida a partir da vontade de um criador divino;
- a panspermia cósmica, para a qual a vida na Terra teve origem a partir de seres vivos do espaço sideral.
Para facilitar o entendimento sobre quando uma explicação é científica, e quando não é científica, vamos apresentar um resumo dos trabalhos científicos e dos debates que foram travados entre os defensores da teoria abiogênese e os da teoria da biogênese.
Para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a vida era gerada espontaneamente por um princípio ativo (um tipo de energia capaz de produzir a vida). Ele defendia, portanto, a teoria denominada abiogênese, cujo nome vem do grego: a (prefixo que significa "sem"); bio (significa "vida") e genese (significa "origem").
Durante séculos, sábios e médicos famosos, como Paracelso (1493-1541) e Van Helmont (1579-1644), trabalham tendo como referência a teoria da Aristóteles, ou seja, considerando que a vida surgia espontaneamente.
Van Helmont fez um experimento para provar essa teoria: colocou, numa caixa, uma camisa suja - com muito suor - e germe de trigo. Por volta de três semanas depois, nasciam filhotes de camundongos. Ele "provava", assim, que os camundongos tinham sido gerados espontaneamente, e o suor humano teria sido o princípio ativo.
Alguns cientistas duvidavam dessas afirmações, dizendo que eram falsas, e procuraram refutá-las com base em experimentos. Um deles, o biólogo italiano Franscesco Redi (1626-1697), formulou uma hipótese diferente: a teoria da biogênese, segundo a qual a vida só é produzida por vida preexistente.
Redi então pesquisou para saber como apareciam as larvas de inseto na carne em decomposição e descobriu que as larvas de moscas (que dariam origem a novas moscas) surgiam a partir de ovos colocados pelas moscas adultas. Assim Redi, para provar a sua teoria, colocou em dois frascos pedaços de carne. Um dos frascos Redi manteve fechado e o outro aberto. No frasco que foram colocados os pedaços de carne tampados, não apareceram nenhuma larva pois as moscas adultas não tiveram acesso a carne para colocar os ovos.
Com esse experimento, ele invalidou a teoria de geração espontânea e provou que a sua hipótese estava correta: a vida só é produzida por vida preexistente.
Apesar de ter sido refutada por Redi, a ideia de geração espontânea ainda persistiu, cerca de um século, para explicar o surgimento de determinados seres vivos. Muitos pensavam que os microorganismos (por exemplo as bactérias), por serem mais simples que os ratos e moscas, surgiam espontaneamente.
Para que a ideia da geração espontânea fosse rejeitada definitivamente, o pesquisador italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) fez um experimento semelhante ao realizado por Redi. Ele ferveu caldo de carne em uns frascos e destruiu os microorganismos ali presentes. Manteve alguns frascos fechados, e outros abertos. Os microorganismos reapareceram somente nos frascos abertos.
Os defensores da teoria da abiogênese contestaram os resultados do experimento de Spallanzani, apresentando a suposição de que a falta de ar uma substância (o princípio ativo) que transformaria o caldo de carne em seres vivos não estava presente.
Foi somente em meados do século XIX que o cientista francês Louis Pasteur refutou de vez a teoria da abiogênese (ideia de geração espontânea), com uma série de experimentos controlados.
- Pasteur colocou caldo de carne em dois frascos de vidro com gargalo em forma de S e ferveu os dois caldos.
- Após esfriamento do caldo ele quebrou o gargalo e S de um dos frascos permitindo assim que os microorganismos entrassem com o ar e crescessem no caldo.
- No segundo frasco o gargalo e S foi mantido fazendo com que os microorganismos e a poeira permanecessem retidos na curvatura do gargalo. Assim o ar chegava ao interior do frasco, mas não surgiram novos organismos no caldo.
Pasteur concluiu por meio deste experimento que os microorganismos estavam presentes no ar, mas, se os isolasse, eles não surgiriam espontaneamente no caldo de carne.
O debate sobre a teoria da geração espontânea é um exemplo de que observações e suposições podem levar a conclusões errôneas e que soluções inovadoras podem levar muitos anos para que sejam aceitas.