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A escassez de água no Nordeste e a osmose reversa

É sabido que a escassez de água no semi-árido nordestino é um problema que exige uma resposta prioritária.

Sua causa está baixa pluviosidade e irregularidade das chuvas da região e uma estrutura geológica que não permite acumular satisfatoriamente água no subsolo, o que interfere, até mesmo, no regime dos rios. Em virtude do solo, a água apresenta , na maioria das vezes, salinidade elevada – com teores de cloreto acima de 1.000 mg/L – o que a torna imprópria ao consumo humano*.

* A Organização Mundial de Saúde recomenda 250 mg/L de cloreto nas águas para o abastecimento das populações.

  Ações governamentais têm sido estabelecidas no sentido de priorizar o acesso à água, dentre elas o uso de dessalinizadores no sentido de melhorar a qualidade das águas de subsolo. Mas é preciso que sejam observadas algumas questões.

  O processo de retirada dos sais das águas é feito por osmose reversa (técnica que força a passagem da água através de uma membrana semipermeável no sentido inverso ao da osmose natural), em que uma água extremamente salinizada torna-se, praticamente uma água destilada. Este fato é muito importante, pois poderá influenciar, sobremaneira, no balanceamento de sais do organismo das pessoas.

  Em virtude das altas temperaturas da região, a população do campo transpira muito e, com isso, perde sais que devem ser repostos pela dieta – que, sabidamente é precária nessa região – e pela ingestão de líquidos – esta população esta acostumada a ingerir águas com teor de sal muito acima dos recomendados pela OMS.

  O que esperar a médio prazo com o consumo dessa água dessalinizada? Pode-se esperar que a população entre em um processo de desmineralização, tendo em vista as fontes de reposição desse elemento não apresentarem mais os teores que vinham suprindo a população anteriormente.

O resultado é que um programa de fornecimento de “água de primeiro mundo” à população, com o uso de dessalinizadores (slogan amplamente divulgado pelos governos), poderá ser, futuramente, um vetor de desmineralização da população. Para corrigir esse problema é preciso que se pense em misturar águas isentas de sais com uma pequena parte de água mineralizada, garantindo assim, uma água com teores salinos adequados ao perfeito funcionamento do organismo humano.

  Ainda com relação à questão dos dessalinizadores, outro aspecto importante a ser mencionado é o destino que deverá ser dado ao rejeito do material resultante do processo de dessalinização das águas. Este material, extremamente rico em sais, atualmente é depositado em lagoas de decantação ou mesmo colocado ao ar livre sem maiores preocupações, constituindo-se em um grave problema ambiental para ser solucionado pelos pesquisadores.

  É provável que os caminhos a serem seguidos pelos pesquisadores, digam respeito ao aproveitamento desses sais para fins pecuários, visto ser a região semi-árida muito carente no aspecto de mineralização dos animais, de piscicultura, principalmente com Tilápias, que são espécies extremamente resistentes a ambientes salinos e de cultivo irrigado com plantas halófilas, a exemplo da Atriplex, que necessitam de águas com teores salinos elevados para se desenvolverem.

Adaptado de: SUASSUNA, J. Água Potável no Semi-árido: escassez anunciada.

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Como referenciar: "A escassez de água no Nordeste e a osmose reversa" em Só Biologia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2024. Consultado em 21/11/2024 às 07:14. Disponível na Internet em https://www.sobiologia.com.br/conteudos/jornal/noticia2.php